A iniciação

Carta nº. 58 do Florilegio Epistolar,de Louis Cattiaux[1]

Seleção de Emmanuel d’Hooghvorst

Tradução do espanhol: Regina de Carvalho

           A influência espiritual transmitida pela iniciação vem a ser como a comunicação da semente de compreensão dos símbolos e ritos. Esta influência se exerce do iniciador ao iniciado, passando pela egrégora[2]ligada aos símbolos e aos ritos. Assim, pois, é a alma dos antepassados, do grupo, da Igreja, e através dela a alma divina que ilumina, por meio dos símbolos e ritos, ao iniciado, que entra assim em posse do segredo da raça, dos antepassados, dos mestres e, eventualmente, dos deuses e inclusive de Deus.

            Isto constitui uma poderosa ajuda, embora alguns indivíduos particularmente dotados podem voltar a encontrar por eles mesmos o sentido dos símbolos e restabelecer os ritos perdidos ou degenerados.

            De todo modo, para esta restituição, que é muito incomum, precisa-se do impulso dos símbolos transmitidos de geração em geração, pois é muito comum ver-se dentro das Igrejas e sociedades que a iniciação comunicada por um vivente se converte em letra morta e se transmite como tal durante um tempo indefinido, até que um indivíduo do grupo ou alheio a este capta por inspiração divina o sentido dos símbolos e ritos, os experimenta e restitui logo sua primitiva pureza, que constitui a tradição primordial.

            Porém, como sabes, o espírito se reserva o privilégio de soprar onde quer, como se sopra sobre uma débil brasa para fazer um fogo e ao final uma fogueira.

            As iniciações dos bruxos nas sociedades primitivas se parecem, curiosamente, às dos sacerdotes nas igrejas civilizadas: os mesmos poderes, prerrogativas, isenções de tabus, morte e ressurreição, etc. Pouquíssimos indivíduos reencontram só as técnicas ocultas, como outros as místicas.

            Em relação a aproximação direta pelo contato com Deus, diremos que é uma imagem, já que só os hermetistas podem falar com propriedade e sem exagerar do contato real com Deus (falo dos hermetistas adeptos realizados e, sobre a terra, não conhecemos ninguém desde o século XVII). O cristianismo herdou a autêntica doutrina hermética e mística, pois formula corretamente os mistérios de Deus, mas poucos entendem seus ensinamentos, muitos tentam provar o impossívele caem na escolástica, a teologia delirante e em todas as complicações da inteligência sem dono da casa.


[1] Arola Editors, Tarragona (E), 1999

[2] Em francês: égrégore; palavra que emprega o autor para designar determinadas entidades espirituais ou angélicas (N.do t.).