A ÚLTIMA CEIA (Lucas 22, 7-20)[1]
Neste dia de quinta-feira santa se celebra a Última Ceia, na que Cristo compartilha com os seus discípulos a promessa de receber o verdadeiro Pão e Vinho da vida nova. Aqui se fundamenta a criação da missa católica, chamada também « sacrifício da missa », pois Cristo se oferecerá e se sacrificará para nos salvar. E ressuscitará em corpo de glória.
A morte de Cristo na cruz não é uma morte vulgar, mas uma morte sagrada, um dos grandes mistérios da regeneração e da glorificação do Deus que nos habita.
Esta ceia, como todo o ciclo até a ressurreição de Cristo, acontece na Páscoa judaica, quando os judeus comem um cordeiro. E por isso Cristo é chamado de « Cordeiro de Deus. » Assim, a verdadeira Eucaristia é comer este Cristo, este
« Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. » Em outras palavras, devemos « comer » a Força divina de Áries que desce do céu. Estamos no signo astrológico de Áries, que é representado por um cordeiro. É a estação da primavera, na qual –no Hemisfério Norte– termina o frio do inverno e renasce a vida nova. Assim nos é ensinado que todas as ciências tradicionais falam deste mistério, também a astrologia.
Na Páscoa se representam, dramatizados, os grandes Mistérios do Cristianismo: vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. Não do homem carnal, mas do Homem espiritual. Como diz São Paulo, « a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção. » (I Coríntios 15, 50)
O LAVA-PÉS (João 13, 1-13)[2]
Outro ritual muito belo e instrutivo da quinta-feira santa é o lava-pés.
Os pés simbolizam o nosso fundamento, o lugar onde reside o nosso Deus, que deve ser lavado da mancha do pecado na qual está envolvido ou coberto, para poder ressuscitar gloriosamente. E somente o Cristo que vem do céu pode nos lavar e nos regenerar. Ele é o Salvador.
E ontem como hoje, àqueles cujos pés forem lavados por Cristo, poderão eles mesmos lavar os pés de outros, como diz o mesmo João (13, 14-15): « vós também deveis lavar-vos os pés uns aos outros (…) para que, como eu tenho feito, vós também o façais. »
VERSÍCULOS D’ A MENSAGEM REENCONTRADA
Não lavamos os pés do Salvador quando ele se encarnou nesta terra de exílio? E não colhemos as suas lágrimas e o seu sangue quando ele expirou para nos salvar? Não pusemos a coroa de ouro puro na sua cabeça real quando ele ressuscitou? E não nos prosternamos aos seus pés reluzentes e santos? (XVIII, 3)
O Livro da plenitude é retirado dos saciados e dado aos famintos para que eles sejam cumulados, mas não saciados. (XXVI, 44′)
Ó pobres, ó humildes, ó simples filhos de Deus, não oferecereis o pão e o vinho àquele que vos oferece a substância e a essência da vida celeste? (XXVI, 44’)
Nosso Deus é um Deus que se come, que se bebe, que comunica a vida, que a mantém, que a liberta e que a restitui na sua primazia admirável. É um Deus que se dá para salvar em nós o que subsiste de vida extraviada na morte. (XV, 62’)
Muitos crentes nos recitam a sua bela lição sobre o sangue de Cristo que salva da morte; mas eles sabem de quem falam e do que se trata realmente? Que primeiro eles busquem o Senhor, e quando o tiverem encontrado eles agirão em vez de discutir em vão. (XXV, 38)
Não fariam melhor buscando o sangue deste rei do céu e viver, em vez de se deter nos hábitos da verdade e de se corromper na morte?
« Predicar a fórmula da água não é dar de beber àqueles que têm sede. » (XXV, 38’)
Cristo está vivo e algumas vezes volta à terra, mas poucos o veem, poucos o recebem e poucos o saboreiam em verdade.
Revelação incrível, que nos faz tremer de alegria e de esperança. (XXV, 40)
[1] 7 Chegou o dia dos pães asmos, em que importava comemorar a páscoa.
8 Jesus enviou Pedro e João, dizendo: Ide preparar-nos a refeição da páscoa para que comamos.
9 Eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?
10 Então lhes explicou Jesus: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem com um cântaro de água; Sigui-o até a casa em que ele entrar
11 e dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a páscoa com os meus discípulos?
12 Ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobiliado; ali fazei os preparativos.
13 E indo, tudo encontraram como Jesus lhes dissera, e prepararam a páscoa.
14 Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa e com ele os apóstolos.
15 E disse-lhes: « Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta páscoa, antes do meu sofrimento.
16 Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no Reino de Deus. »
17 E tomando um cálice, havendo dado graças, disse: « Recebei e parti entre vós;
18 pois vos digo que de agora em diante não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus. »
19 E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.
20 Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vós.
[2] 1 Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus,
3 sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos e que ele viera de Deus e voltava para Deus,
4 levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela.
5 Depois deitou água na bacia e passou a lavar os pés dos discípulos e a enxugar-los com a toalha com que estava cingido.
6 Aproximou-se, pois, de Simão Pedro e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim?
7 Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora, compreende-lo-ão depois.
8 Disse-lhes Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo.
9 Então Pedro lhe pediu: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés. Ora, vós estais limpos, mas não todos.
11 Pois ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos.
12 Depois de ter-lhes lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendei o que vos fiz?
13 Vós me chamais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem: porque eu o sou.