Carta de Emmanuel d’Hooghvorst a Bernard Chauvière[1]

Tradução do francês: António Almeida

14 De Dezembro de 1992.

Caro Senhor,

Peço desculpa por responder tão tardiamente à sua carta de 25 XI. Imagine só que a minha mulher, na sequência de uma queda, quebrou o colo do fêmur. Foi preciso operar e ela passou um mês numa clínica; eu mesmo tive que abandonar meu apartamento para morar com uma das minhas filhas. Só voltamos agora para nossa casa onde encontrei uma pilha de correspondência em atraso, tão alta como os Himalaias ou próximo disso… É o que explica o meu atraso.

De volta agora à sua carta. Sim, Canseliet tinha razão em nos dizer que a necessidade imperiosa de laborar é uma espécie de graça, e gostaria de salientar, dizendo: a necessidade imperiosa de obrar para atrair a nós a graça – ou mais exatamente, a visita de um Adepto detentor do “dom de Deus”. Mas devemos refletir no número de pesquisadores que existem espalhados pelo mundo, e o muito pequeno número daqueles que acedem finalmente a essa graça.

Sim, a primeira operação é uma operação material. Tudo é material na alquimia e os alquimistas são os maiores materialistas do mundo. Mas trata-se simplesmente do dom da primeira matéria que está tão bem escondido e ignorado neste mundo.

Não se deve negligenciar a importância da oração, que é uma projeção da vontade de Deus. É assim que ela pode atrair na nossa direção os Adeptos, ou um dentre eles, pois, como você sabe, os Adeptos permanecem vivos. Eles observam-nos, podem nos guiar e mesmo manifestarem-se a nós, se formos capazes de suportar a sua visita…

Do mesmo modo, o primeiro conselho que lhe posso dar é de rezar e, uma vez que você foi criado na religião católica, deixe-me aconselhá-lo a invocar a Virgem Maria, pois ela mesma recebeu a visita do Anjo Gabriel, cujo nome significa em aramaico: “o homem do Alto” ou mais precisamente – o Adepto – que lhe trouxe o ouro de Cristo.

Infelizmente não existe trabalho a realizar sobre nós mesmos. É como se disséssemos a um paciente que ele pode se curar fazendo um trabalho sobre si mesmo, sem medicina e sem medicação. O medicamento que nos pode regenerar é especificamente dado pela Grande Obra, que é também, como você sabe, uma Grande Arte. Para além disso, existe um grande segredo oculto no Mistério Mariano, e também noutros lugares da revelação cristã; um mistério esquecido e perdido pelos cristãos de hoje e que precisamos redescobrir. O mistério da Criação do Homem (e da mulher que saiu dele…).

Trata-se na realidade de uma “manipulação química” que, aliás é de grande simplicidade. Mas nós somos demasiado complicados e demasiado astutos. Inventamos todo tipo de complicações que não são conformes às operações da Natureza e, de alguma maneira, os Mestres nos tem feito cair na armadilha das nossas próprias astúcias. Por isso dizem os Mestres: “Devemos ser muito simples e seguir a via simples da Natureza”.

Assim, creio que nos devemos apresentar como somos, com as nossas fraquezas e nossos defeitos, e dizemos que são os doentes os que precisam de um médico, e não os que têm boa saúde.

No que me diz respeito, ainda vos devo confessar de ter sido posto na via de Verdade pelo meu amigo Louis Cattiaux. 


[1] Extraído do livro de Bernard Chauvière – © LesChroniques de Mars, número 18 – Setembro – Outubro de 2015.